Quando a exposição solar é insuficiente, a vitamina D tem que ser obtida através da alimentação ou de suplementos. Mas, o que é que está em causa quando há baixos níveis desta vitamina?
A vitamina D tem uma função muito importante no nosso organismo e está diretamente ligada à prevenção de doenças como a osteoporose. Pode ser produzida no nosso organismo, através da ação que a radiação ultravioleta da luz solar tem na nossa pele, que vai permitir a sua síntese.
Além da exposição solar, esta também pode ser obtida através de alimentos, ainda que numa dose mais baixa.
Que tipos de vitamina D existem?
A vitamina D pode ainda ser subdividida em dois tipos principais, de acordo com a sua origem, ou seja, a forma como pode ser obtida. Os dois tipos são:
- vitamina D3 (colecalciferol), sintetizada na pele durante a exposição solar ou obtida através da ingestão de certos alimentos, como ovos e peixes gordos;
- vitamina D2 (ergocalciferol), produzida por irradiação ultravioleta de leveduras e cogumelos expostos ao sol e ingerida em suplementos dietéticos ou medicamentos.
A importância da vitamina D no organismo
A vitamina D é importante para o nosso corpo, nomeadamente para a densidade mineral óssea, já que contribui para a absorção de cálcio e regula as concentrações necessárias de cálcio sérico e de fósforo. Também ajuda no funcionamento de outros sistemas do nosso organismo, como é o caso do muscular, cardiovascular e imunitário.
Controla a absorção intestinal de cálcio e fósforo no intestino; participa na estimulação da reabsorção de cálcio nos rins; e aumenta a libertação de fósforo e cálcio para a manutenção dos valores séricos normais nos ossos.
A vitamina D pode prevenir a COVID-19?
Vários estudos têm sido desenvolvidos no sentido de perceber se o défice de vitamina D tem impacto no agravamento dos sintomas em pessoas com COVID-19 e se a suplementação nesta vitamina pode prevenir ou tratar esta doença.
No entanto, as revisões aos poucos estudos publicados sobre a temática revelam que ainda são existe evidência para assumir a necessidade de suplementação por parte de toda a população, nem que a suplementação em vitamina D previne ou trata a COVID-19.
Assim, a indicação de suplementação deve partir sempre do médico, atendendo ao estado de saúde e os níveis séricos de vitamina D individuais.
Fontes de vitamina D
Existem duas formas essenciais de obter esta vitamina. Um desses modos consiste numa exposição solar regular, de preferência às horas em que o sol é menos perigoso para a pele. Outra forma é através do consumo habitual de alimentos particularmente ricos nesta vitamina.
1. Exposição Solar
A síntese de vitamina D na pele, conseguida através da exposição solar, vai depender de diversos fatores, entre os quais:
- latitude da zona geográfica;
- estação do ano;
- hora do dia;
- superfície corporal exposta ao sol;
- duração da exposição solar;
- uso ou não de cremes com proteção solar;
- tipo de pigmentação da pele;
- ter ou não obesidade;
- idade.
A exposição solar deve então ser feita em horas de menor radiação e deve incidir sobre a pele do corpo, particularmente em regiões como braços, pernas, mãos e cara, bastando 15 min de exposição sem protetor solar.
2. Fontes alimentares
Há poucas fontes dietéticas de vitamina D, sendo as principais os óleos de peixe e os produtos alimentares enriquecidos, como os produtos lácteos e o pão.
Alguns exemplos de fontes alimentares são os seguintes (a dose diária recomendada é medida em Unidades Internacionais):
Alimento | Vitamina D |
Cogumelos (100g) | 1 360 UI |
Óleo de Peixe (1 colher de sopa) | 447 UI |
Salmão (100g) | 441 UI |
Sardinha de conserva em óleo (100g) | 331 UI |
Leite fortificado com vitamina D (1 copo) | 120 UI |
Quejio fresco (100g) | 110 UI |
1 Ovo | 95 UI |
Salsichas (100g) | 70 UI |
Carne de porco (100g) | 50 UI |
Fígado (100g) | 49 UI |
Para além destes, os produtos lácteos, cereais e sumos de laranja são já fortificados e podem contribuir para equilibrar os valores plasmáticos de vitamina D.
Quais as necessidades diárias de vitamina D?
A dose diária recomendada varia em função da fase do ciclo de vida em que o indivíduo se encontra. Eis os valores de referência a considerar.
Grupo | UI de referência |
Lactentes (0 aos 12 meses) | 400 |
Crianças (1 aos 8 anos) | 600 |
Homens e mulheres (9 aos 70 anos) | 600 |
Homens e mulheres (>70) | 800 |
Gestantes e em amamentação | 600 |
Os principais sintomas de toxicidade incluem confusão mental, tonturas, depressão, vómitos, obstipação, dor abdominal e hipertensão arterial.
Dose máxima recomendada
De acordo com a Direção-Geral da Saúde, a dose máxima diária recomendada de vitamina D deve ser de 4000 UI. Ingerir doses diárias elevadas não só não tem interesse terapêutico como deve ser evitado. O excesso desta vitamina pode causar vários problemas como nefrolitíase, calcificação dos tecidos moles e danos renais e cardiovasculares.
As consequências do défice de vitamina D para a saúde
O défice de vitamina D pode acarretar consequências para a saúde, na sua maioria relacionadas com problemas ósseos, nomeadamente: (2)
- Redução dos níveis sanguíneos de cálcio (hipocalcemia) e de fosfato (hipofosfatemia);
- Raquitismo (enfraquecimento dos ossos na infância);
- Osteomalácia (enfraquecimento dos ossos nos adultos)
- Redução da densidade óssea (osteopenia ou osteoporose);
- Hipocalcemia ligeira
- Aumento da hormona paratiróide que provoca o enfraquecimento ósseo);
- Risco aumentado de quedas e de fraturas.
A febre da pesquisa e prescrição desta vitamina teve o seu início numa série de indícios de que as pessoas com baixos níveis séricos apresentavam maior risco de doença cardiovascular, diabetes, cancro, demência e doenças autoimunes como a esclerose múltipla.
No entanto, estas relações não se verificam, e os baixos níveis de vitamina D que outrora foram associados ao aparecimento de várias doenças como a doença cardiovascular, têm vindo a ser refutados com ensaios clínicos.
Níveis de vitamina D considerados normais e suplementação
Geralmente, níveis séricos acima dos 20 ng/ml são considerados saudáveis, mas muitos profissionais de saúde consideram que a carência persiste abaixo dos 30 ng/dL.
Na verdade, embora a medição dos níveis e suplementação com vitamina D seja comum, poucos são os benefícios demonstrados para a saúde, salvo em casos específicos.
No que diz respeito ao impacto nas doenças crónicas e esperança média de vida, nada parece apontar para o facto de os níveis séricos de vitamina D poderem reduzir esse risco. O mesmo se verifica no risco de fraturas em idosos na comunidade.
Assim, os baixos níveis desta vitamina são, acima de tudo, um marcador de doença e não um fator de risco para o aparecimento de doenças.
Quem precisa de tomar suplementos de vitamina D?
A generalização da toma de suplementos de vitamina D é um problema atual que deve merecer a melhor atenção por parte de todos. Por esse motivo a auto-suplementação nunca deve ser feita, independentemente da pessoa pertencer ou não a um grupo de risco mais propício a ter carência.
Apesar do seu risco de toxicidade no organismo ser residual e difícil de ocorrer, é sempre recomendável que a toma destes suplementos só seja feita após aconselhamento médico, obedecendo aos critérios definidos na Norma 004/2019 da Direção-Geral da Saúde.
Idosos
A evidência tem demonstrado que a toma de suplementos de vitamina D em doentes de alto risco e idosos com osteoporose.
Contudo, isso não significa que ser um idoso com osteoporose sejam as únicas condições a considerar para a prescrição de suplementos desta vitamina. É essencial que seja feito um estudo e exame global do indivíduo para perceber se, realmente, há carência desta vitamina e se esta justifica a toma de um suplemento, ou seja, se se enquadra nas situações contempladas nas orientações nacionais e internacionais.
A toma destes suplementos é cada vez mais comum e estudos destacam um excesso de suplementação por parte de adultos com mais de 70 anos, sem benefícios reais e comprovados.
Crianças
Segundo a Direção-Geral da Saúde, as crianças saudáveis até aos 12 meses de vida, independentemente do seu tipo de alimentação, devem fazer um suplemento de vitamina D, na dose de 400 UI/dia. (3)
Adultos com carência
Apesar da importância desta vitamina e do facto da sua carência ser cada vez mais generalizada, muitas pessoas tomam suplementos de vitamina D sem, na realidade, terem essa necessidade.
Estudos recentes mostram que não existem benefícios de saúde acrescidos na ingestão de suplementos de vitamina D em adultos.
A toma de suplementos de vitamina D por pessoas saudáveis, sem sintomas associados à carência deste micronutriente não demonstrou melhorar a saúde, nomeadamente no que diz respeito às doenças cardiovasculares, cancro ou fraturas em adultos.
A deteção da carência e a possível suplementação em vitamina D apenas está recomendada em doentes de alto risco, como por exemplo doentes com osteoporose, doença renal crónica, síndromes de malabsorção, obesos e que façam tratamento crónico com corticosteroides. Em qualquer dos casos, a toma de suplementos só deve acontecer quando há indicação médica para tal.
Conclusão
A importância da vitamina D nos processos de crescimento e desenvolvimento é indiscutível. Neste sentido, alguns trabalhos recentes apontam para uma série de riscos para a saúde que concentrações séricas baixas desta vitamina podem acarretar.
Estes dados deram origem a uma febre de pesquisa e prescrição desta vitamina. No entanto, estes factos têm vindo a ser cada vez mais refutados e, neste momento, mais do que um fator de risco para o aparecimento de doenças, baixos níveis de vitamina D estão associados à presença de doença.
A carência desta vitamina é bastante comum, mas desde que não esteja grávida ou não sofra de doença renal crónica, osteoporose ou obesidade, os seus níveis podem ser facilmente repostos através da exposição solar controlada e da ingestão de alimentos ricos em vitamina D.
+ Fontes
- Direção-Geral da Saúde. Vitamina D. Disponível em: https://alimentacaosaudavel.dgs.pt/nutriente/vitamina-d/
- U. S. Departement Agriculture. National Nutrient Database for Standadr Reference. Disponível em: https://fdc.nal.usda.gov/ndb/
- Direção-Geral da Saúde. Norma 004/2019. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0042019-de-14082019-pdf.aspx
- The Lancet Diabetes & Endocrinology. Vitamin D and COVID-19: why the controversy? 2021. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/landia/article/PIIS2213-8587(21)00003-6/fulltext
- Declaração Portuguesa da Vitamina D. Disponível em: https://www.spmi.pt/pdf/Declaracao_Port_VitD_2009_final.pdf
- Kenneth W. Lin. Vitamin D Screening and Supplementation in Primary Care: Time to Curb Our Enthusiasm. Disponível em: https://www.aafp.org/afp/2018/0215/p226.html
- Michael L. LeFevre, Screening for vitamin D deficiency in adults: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25419853/
- Virginia A. Moyer, Vitamin, mineral, and multivitamin supplements for the primary prevention of cardiovascular disease and cancer: U.S. Preventive services Task Force recommendation statement. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24566474/
- Virginia A Moyer. Vitamin D and calcium supplementation to prevent fractures in adults: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23440163/
- LeFevre ML; U.S. Preventive Services Task Force. (2015). Screening for vitamin D deficiency in adults: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25419853/
- Moyer VA; U.S. Preventive Services Task Force. (2014). Vitamin, mineral, and multivitamin supplements for the primary prevention of cardiovascular disease and cancer: U.S. Preventive services Task Force recommendation statement. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24566474/
- Autier, P., et. al. (2014). Vitamin D status and ill health: a systematic review. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/landia/article/PIIS2213-8587(13)70165-7/fulltext